Traduzir,
como diriam os concretistas é trair o autor. Não sendo tão rigoroso, mas ao
mesmo tempo buscando trazer para nossa compreensão, as formas e imagens de
outro lado mundo, as palavras signo, os ritmos exóticos à nossa língua mãe. E,
acima de tudo, a sensibilidade profunda e sutil, da raça nipônica.
Os
poetas japoneses sempre demonstraram em seus haikus, wakas e tankas essa
maneira sutil de demonstrar os sentimentos mais profundos e nobres que a alma
do país do sol nascente nos legou.
A
lenda da princesa Orihime com o pastor Hikoboshi remonta milênios, perdida
entre a proto-história japonesa. È uma força que sustenta um dos pilares da
cultura. Origem do Tanabata Matsuri (Festival de Tanabata), cuja história é
conhecida por todas as crianças do Japão. E na sétima noite do sétimo mês é
comemorado há séculos.
A
história narra a aventura da princesa Orihime-Sama, a princesa tecelã. Filha do
Rei do céu, que estava ainda terminando a construção do universo, então precisava
da exímia habilidade da Princesa para tecer as neblinas do outono, a névoa da
manhã, as dobras das galáxias, decorando o firmamento como cortinas diáfanas de
luz penduradas entre os planetas.
O
Pai, ao ver a filha exausta por tanto trabalho, resolveu dar um dia de folga
para que ela pudesse folgar pelo amenogawa, o rio de estrelas, conhecido por
nós pelo nome de via láctea.
Lá a
princesinha tecelã conhece o pastor de gado Hikoboshi e logo se apaixona por
ele. Os dois então se esquecem do tempo e se divertem juntos chapinhando o rio
de estrelas.
O
Rei do céu então furioso com a irresponsabilidade da filha vai buscá-la e ela retorna
ao palácio. O Rei usando de seus poderes aumenta o rio de estrelas que de um
pequeno riacho, se transforma em um rio caudaloso, impossível de ser
transposto. Ficando a princesa e o pastor em lados opostos.
Mas
a princesa de tão triste, não consegue mais tecer. E passa os dias chorando.
Suas lágrimas transbordam e caem na terra como um dilúvio. O rei aflito com a
situação da filha lhe diz:
_
Minha filha volte a tecer. Se você trabalhar bem, prometo que na sétima noite
do sétimo mês, uma vez por ano eu deixo que você volte a se encontrar com o
pastor de gado.
Ao
ouvir as palavras do pai a princesa se alegrou e voltou a tecer como antes. E
uma vez por ano, conforme o prometido mil pássaros formam uma ponte sobre o rio
de estrelas, com suas asas, para que a princesa possa atravessar o rio de
estrelas e se encontrar com seu pastor. A história deu origem ao festival de
Tanabata que é comemorado pelos japoneses e seus descendentes na sétima noite
do sétimo mês, pelo calendário lunar. Para nós ocidentais, devido a usarmos o
calendário solar as datas são móveis. A história se reporta ainda ao simbolismo
da estrela Veja e da estrela Altair que são de galáxias diferentes, mas que uma
vez por ano se encontram próximas.
A
história se tornou muito popular no país do sol nascente e há uma linda canção
infantil que fala da princesa.
Como
disse, a sensibilidade sutil dos nipônicos fazem da canção de roda, um lindo
poema.
Eu
procurei traduzi-lo para nossa língua, mas confesso que não é nada fácil. O
original em japonês diz:
Sasa no ha sara-sara
Ohoshi-sama kira-kira
Kin gin sunago
Literalmente
quer dizer:
Grandes folhas de bamboo murmuram
As folhas presas balançam,
Estrela deusa brilha
Ouro e prata em grãos de areia.
A imagem folhas presas não é
boa para expressar o movimento e o ruído das folhas de bambu sopradas pelo
vento, (Sara-sara).
Então usando de um pouco de
licença poética e de recursos de sibilar os “esses” em assonâncias para
expressar o ruído das folhas traduzi.
As folhas de bambu sussurram
E suspensas oscilam.
A princesa estrela suave cintila
Nos grãos de areia de ouro e prata.
Alex
Sakai- PVH abril 2013