terça-feira, 30 de janeiro de 2024
sábado, 30 de abril de 2022
58
Sentado aqui na em meio a floresta amazônica
Na América do Sul, sinto sob minhas unhas,
Em cada dente,
Dentro de cada veia
A profundidade do azul.
A maturidade que o tempo inexoravelmente traz
Embala meus sonhos
Não mais sonhos vãos feitos de ego
Não vãos cegos das fendas obscuras da cidade
Luz da realidade
Veloz
cidade
do espírito que me mora
Suave carícia da consciência Q me namora
Aroma fugás das eras do mar imenso da memória
Q amor
tece
a dor de dantes
suprime o rímel lacrimejante
dos olhos viajantes
de rimas
risos
rios
de vento e poemas.
Havemos de ser mais do que palavras
E pensamentos
Silêncios e lamentos
Vozes d’alma
Fina calma
Da flor Q brota
Da lama
Amá-la é amalgamá-la
além do bem e do mal.
Lavá-la em lívida cal
Limpando o
caos.
Os olhos acesos nos gritos lancinantes do medo
São infames ritos
Dos aflitos.
Vê-los aquece o sol do desvelo em seu giro
Limpando o vírus
Q miro
mero
mito
Q viro
E varo
Como tetos de
vidro.
A calma da tarde repousa suave
A nave Q parte renova silente
Ave Q voa retorna sonora
A Vida se vive vibrante e tranquila.
Alex Sakai
13022021
terça-feira, 7 de dezembro de 2021
O dragão da maldade contra o Santo Guerreiro
O dragão da maldade contra o Santo Guerreiro
Nesse vale de sombras
Se for para seguir alguém
Siga ninguém.
Nessa terra de trevas
Se for para fazer o bem
não olhe a quem.
Teu sorriso é o que eles temem
Ídolos de pés de barro
Pequenos ditadores
Retóricos aduladores.
Na hora do bom combate
A justa tem preferência
Pelo companheiro leal
Ombro a ombro no embate
Ante zumbis do irreal.
As garras da maldade
Nunca hão de tocar
O jovem guerreiro justo
E o velho bardo medieval
Com seus agudos lancinantes
Pondo sob as patas do rocinante
Os subjulgados do mal.
Porque além da injustiça
Aos pés da árvore Druida
Ecoa o regato da esperança
As araras aladas da floresta
São testemunhas da aliança
Que nos conduzem a vitória
Com os passos puros das crianças.
sábado, 4 de dezembro de 2021
os travares das ostras
os travares das ostras
são a nota mestra
com Q mostram
silentes sob os mastros
a solitária
madrepérola
de uma sinfonia
sem maestro
Alex Sakai
São Lourenço
1985
Escrevi este poema na praia de São Lourenço em 1985.
Ao passear pela praia, durante a tarde, ouvi o ruído das ostras grudadas no mastro de um velho barco naufragado. Saudando o pôr-do-sol.
O som era surdo. Consonantal trac trac trac.
Procurei reproduzir sonoramente o som das sinfonias das ostras ao entardecer neste poema melopaico, como dizia Ezra Pound.
Creio Q o resultado foi satisfatório. Eu aprecio este poema, espero Q os leitores apreciem também.
Anos depois realizei, com meus parcos recursos e conhecimentos, este pequeno vídeo, cuja música, dodecafônica foi composta pelo Maestro Lincoln.
Infelizmente não possuo a gravação de seu piano dodecafônico com papel alumínio, para mostrar a vocês. Era muito lindo.
Demorei mais alguns anos para publicar. Sou rápido na produção, mas muito lento com as publicações rsrsrsr.
sexta-feira, 3 de dezembro de 2021
A Bailarina
A
BAILARINA
A bailarina
Numa bolha de
ilusão
Dança sem
platéia
O descompasso da
fuga
O descortinar da
vida
O medo da
estréia
São empecilhos
maiores
Do Q o nó
Das sapatilhas
Q se desatam na
vaia vazia
Da sala vazia
Quando não se
dança a vera coreografia
Nos gestos
desritimados
Na ânsia
desesperada
No desacordo com
o maestro
A bailarina
Hesitando o
salto
Chora na coxia
E apesar do
esforço da produção
A astúcia do
empresário
A benevolência
da crítica
Com mágoa dos
espectadores
Com imposições à
orquestra
Com restrições
sutis
À ordem do programa
Resoluta
Em sua torre de
marfim
A bailarina
Numa bolha de
ilusão
Dança sem
platéia.
segunda-feira, 29 de novembro de 2021
A tradução da canção
Traduzir,
como diriam os concretistas é trair o autor. Não sendo tão rigoroso, mas ao
mesmo tempo buscando trazer para nossa compreensão, as formas e imagens de
outro lado mundo, as palavras signo, os ritmos exóticos à nossa língua mãe. E,
acima de tudo, a sensibilidade profunda e sutil, da raça nipônica.
Os
poetas japoneses sempre demonstraram em seus haikus, wakas e tankas essa
maneira sutil de demonstrar os sentimentos mais profundos e nobres que a alma
do país do sol nascente nos legou.
A
lenda da princesa Orihime com o pastor Hikoboshi remonta milênios, perdida
entre a proto-história japonesa. È uma força que sustenta um dos pilares da
cultura. Origem do Tanabata Matsuri (Festival de Tanabata), cuja história é
conhecida por todas as crianças do Japão. E na sétima noite do sétimo mês é
comemorado há séculos.
A
história narra a aventura da princesa Orihime-Sama, a princesa tecelã. Filha do
Rei do céu, que estava ainda terminando a construção do universo, então precisava
da exímia habilidade da Princesa para tecer as neblinas do outono, a névoa da
manhã, as dobras das galáxias, decorando o firmamento como cortinas diáfanas de
luz penduradas entre os planetas.
O
Pai, ao ver a filha exausta por tanto trabalho, resolveu dar um dia de folga
para que ela pudesse folgar pelo amenogawa, o rio de estrelas, conhecido por
nós pelo nome de via láctea.
Lá a
princesinha tecelã conhece o pastor de gado Hikoboshi e logo se apaixona por
ele. Os dois então se esquecem do tempo e se divertem juntos chapinhando o rio
de estrelas.
O
Rei do céu então furioso com a irresponsabilidade da filha vai buscá-la e ela retorna
ao palácio. O Rei usando de seus poderes aumenta o rio de estrelas que de um
pequeno riacho, se transforma em um rio caudaloso, impossível de ser
transposto. Ficando a princesa e o pastor em lados opostos.
Mas
a princesa de tão triste, não consegue mais tecer. E passa os dias chorando.
Suas lágrimas transbordam e caem na terra como um dilúvio. O rei aflito com a
situação da filha lhe diz:
_
Minha filha volte a tecer. Se você trabalhar bem, prometo que na sétima noite
do sétimo mês, uma vez por ano eu deixo que você volte a se encontrar com o
pastor de gado.
Ao
ouvir as palavras do pai a princesa se alegrou e voltou a tecer como antes. E
uma vez por ano, conforme o prometido mil pássaros formam uma ponte sobre o rio
de estrelas, com suas asas, para que a princesa possa atravessar o rio de
estrelas e se encontrar com seu pastor. A história deu origem ao festival de
Tanabata que é comemorado pelos japoneses e seus descendentes na sétima noite
do sétimo mês, pelo calendário lunar. Para nós ocidentais, devido a usarmos o
calendário solar as datas são móveis. A história se reporta ainda ao simbolismo
da estrela Veja e da estrela Altair que são de galáxias diferentes, mas que uma
vez por ano se encontram próximas.
A
história se tornou muito popular no país do sol nascente e há uma linda canção
infantil que fala da princesa.
Como
disse, a sensibilidade sutil dos nipônicos fazem da canção de roda, um lindo
poema.
Eu
procurei traduzi-lo para nossa língua, mas confesso que não é nada fácil. O
original em japonês diz:
Sasa no ha sara-sara
Ohoshi-sama kira-kira
Kin gin sunago
Literalmente
quer dizer:
Grandes folhas de bamboo murmuram
As folhas presas balançam,
Estrela deusa brilha
Ouro e prata em grãos de areia.
A imagem folhas presas não é
boa para expressar o movimento e o ruído das folhas de bambu sopradas pelo
vento, (Sara-sara).
Então usando de um pouco de
licença poética e de recursos de sibilar os “esses” em assonâncias para
expressar o ruído das folhas traduzi.
As folhas de bambu sussurram
E suspensas oscilam.
A princesa estrela suave cintila
Nos grãos de areia de ouro e prata.
Alex
Sakai- PVH abril 2013