quarta-feira, 3 de junho de 2009





Feelings ou reflexões de um velho bardo sobre a poética.


Escuro escuro escuro. Todos vão ao escuro,
O vazio espaço interestelar, o vazio no vazio.



As palavras são a ordem e a desordem do universo.
Uma palavra pode salvar o dia, ou por tudo a perder.
O poder da palavra é indiscutível. A palavra é a pá que lavra o destino do homem.
Uma palavra como uma pessoa tem uma origem e um fim.
Mas o que há de mais notável em seu poder é a capacidade infinita de expressão, seu labirinto etimológico, seu jogo sutil de significados.
Há muito coleciono palavras. Palavras exóticas. Palavras banais. Palavras de alto valor sentimental. Palavras perigosas. Palavras nuas, sem seu véu de oculto poder.
Vejam o caso da palavra ventre, que durante anos freqüentou habitualmente meus escritos.
Como um chamado ao amor. Semiologicamente, pode se ver em ventre a palavra vem + entre, como se a menção da palavra fosse mesmo um convite as delícias da alcova.
Há casos mais sérios como a palavra consciência. Ter consciência é ter um estado pleno de lucidez, é o conhecimento presente, o estar desperto, com pensamento claro que possui àquele que está com a ciência.
Ao longo da vida venho colecionando essas pequenas jóias como
Paciência, realidade, cativar, diamante. Substantivos expressivos como flor, amora, irmão, coração. Palavras esquisitas como lambisgóia, alfarrábio, fidúcia. Sonoras como plúmbeo, trom, tântalo, abracadabra. Profundas como silêncio, claras como solar, límpidas como vento, nua como nuvem.
Como o poema totem que escrevi um dia :
Nu
Vem
To
Tem
Po
.

Onde se lê Nuvemtotempo,
Nuvem
Vento
Totem
Tempo e ponto final.
As palavras são designadas pelos poetas para além do cotidiano, vejam “ ou isso ou aquilo”, “lição de coisas”, vejam Drummond, vejam “um áporo”, vejam “oh roolfs of chelsea” e “voilá La tour Eiffel” de Vinícius de Morais, vejam além das palavras, vejam suas vísceras. A amplitude da compreensão se agiganta, se aprofunda, sobe aos círculos superiores da linguagem. Desde os ananukis, os seres supremos de três metros de altura, que segundo a civilização suméria, criou a escrita e muito mais, de acordo com o “códico cósmico” de Zecharia Sitchin, onde as tablitas de argila da escrita cuneiforme nos contam histórias fantásticas da expressividade de palavras além dos limites de nossa galáxia. E de como foram o fogo mágico civilizador da humanidade. Ficar no raso das rimas pobres, dos versos óbvios, das citações históricas, dos estilos, sem penetrar no reino surdo das palavras e das letras é matar a poesia e seus sacramentos.
Mallarmé disse a seu amigo pintor, séculos atrás, que poesia não se faz com idéias e sim com palavras. Por isso para quem quiser de verdade ser um poeta tem que penetrar nesse reino, como se penetra uma mulher. Com carinho, mas firmeza. Com ternura, mas com ciência. Tem que colecionar palavras. Tem que saber que cada uma é uma vibração de energia inteligente. Que cada uma tem o poder de criar ou destruir universos.
O Zohar, o livro da cabala Judaica nos conta que o próprio Deus usou das 22 letras hebraicas, de alef a tav para protagonizar a criação. O sábio povo Judeu, desde o princípio, sempre soube do poder das palavras, por isso seu exército sempre foi invencível. Sua ciência magistral e sua poesia a mais bela. Alguém já leu “o cântico dos cânticos”, não apenas como um mero poemeto do erotismo semita, como o querem os que se contentam com o raso, mas como uma expressão profunda do amor cósmico que tudo sustenta, a força cabalística superior, o amor que move astros e o firmamento? O que dizer dos salmos do poeta Davi, sem dúvida o poeta mais lido de todos os tempos. Os provérbios, o “Qohelet” de Salomão?
Por isso afirmo, para ser um verdadeiro poeta, um não pode se contentar com pouco, há que ser radical, ir à raiz. Conhecer a origem. Vibrar uníssono com o som das esferas e saber que elas, as palavras, são faces do mistério da criação. O resto é melosidade sem melodia, rimas sem conteúdo, imagens desbotadas e sem contorno. Vazio da existência, de divindade e de poesia.
Os poetas que já foram sagrados, porque tinham a compreensão da criação e o dom de cantar, se tornaram obtusos produtores de ruídos sonoros e logopaicos. Criaturas arrogantes, artífices ululantes do medíocre, almas perdidas sem seu criador.
Penetremos, pois, silenciosamente no reino das palavras... ali está o verdadeiro caminho do poeta.

Alex Sakai
PVH – março 2009

2 comentários:

Anônimo disse...

Alex, ouso mudar seu totem:
Leio: Nu, vem...
Totem.
E ponto final!
Adorei o blog! Essa foto da Hanuxa é linda!
Thais Sanzini

Marcia Amazonas disse...

simplesmente magnífico esse seu texto sobre o poder das palavras, meu amigo.
deixo aqui minha sugestão: numa próxima, fala do que o silêncio diz.